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3/18/2010

Recorra ao Design Thinking?!


Recorra ao Design Thinking! De segunda-feira até hoje ouvi essa frase quatro vezes e pra mim, isso é mais do que o suficiente pra realmente pensar sobre ele. Você ainda não ouviu? Agora só se fala em design thinking como a solução mágica para todos os problemas do mercado. Mas será que é tudo isso mesmo? Primeiro vamos entender do que se trata e depois decidir se vamos recorrer a ele.

Para explicar isso a vocês vou lançar mão dos conceitos de Roger Martin, colunista da Business Week, que no final do ano passado na AIGA Design Conference, foi o primeiro a dizer pra mim: Recorra ao Design Thinking!

Martin começa explicando que o homem está rodeado de mistérios em seu ambiente e por isso tenta de qualquer forma organizar o conhecimento e as informações de forma que consiga entende-las, na maioria das vezes apelando para as heurísticas. Vem daí a nossa compulsão de rotular as coisas e pessoas para conseguir compreendê-las. Se isso for concretizado são desenvolvidos algoritmos para solucionar questões. Super funciona para a área tecnológica, por isso não cabe aqui criticá-la. Já no marketing, às vezes dá certo, Nike e Coca Cola podem provar isso, mas na maioria dos casos, esse método produz profissionais compulsivos por fórmulas, que desde o final do século passado passaram a falhar na hora de solucionar problemas de inovação.

Esse jeitinho racional de pensar se chama, o analytic thinking, é importante porque reduz custos e torna os processos mais eficientes. Aliás, as universidades vivem basicamente de pensar assim (no strings attached).

O objetivo do pensamento analítico é gerar regras usando a lógica indutiva ou dedutiva, sem fazer julgamento de valor e isso acaba gerando olhares para o passado de maneira imparcial, recolhendo dados para concluir algo que possa ser utilizado no futuro com segurança e de maneira consistente, o abre-alas desse pensamento são as Séries Temporais e os Forecastings. Aliás, o foco não é descobrir algo adequado, mas principalmente uma regra que faça sentido e possa ser explicada, usada, desmontada, entendida.

O método divergente a esse é o intuitivo (intuitive thinking). Nesse caso, o objetivo é entender, mas não necessariamente usando a razão. Ao contrário do anterior, o intuitivo não considera os dados do passado, seu foco é o que poderia ser, a pergunta é “por que não?“.

Nesse caso se faz julgamento de valor sem critérios objetivos; não se está preocupado em provar nada. O intuitivo quer chegar num resultado que resolva o problema, mas não se ocupa em reproduzir essa solução ou investigar se ela se aplica também a questões semelhantes. Isso às vezes funciona, mas custa caro e é muito arriscado, porém é como a maior parte das inovações nasce.

Em cima do muro penso, devo voar ou fincar os pés no chão?

De acordo com o filósofo Charles Pierce (conhecido por seu trabalho em semiótica), nenhuma idéia realmente nova parte da lógica indutiva ou dedutiva, pois, se ela é nova de verdade, ainda não existe passado para ser analisado. Idéia nova significa tudo novo, ou seja, aquele mistério com o qual começamos a conversa.

No dia a dia das empresas que precisam de idéias novas, a maneira de prover mais segurança para o sistema é produzir o tal passado, amadurecendo a idéia por tempo suficiente para que ela possa ser pensada de maneira analítica. Resumindo: tenha idéias de maneira livre e intuitiva, mas depois construa protótipos e os submeta à segurança e eficiência do pensamento analítico para que elas possam se transformar em produtos factíveis.

Então, o grande desafio do design thinking é basicamente esse: pensar analítica e intuitivamente de maneira simultânea — meio algodão, meio poliéster. Voar, mas tendo pelo menos um pé preso ao chão (algo como um bungee jump).

Se o caminho do meio termo do design thinking vai mesmo resolver o impasse entre analíticos e intuitivos não se sabe, mas olhando assim, parece promissor. Não sei quanto a vocês, mas eu vou Recorrer ao Design Thinking!

*Aos interessados no assunto, os livros acima são a melhor combinação para entender melhor o conceito e aplicações do design thinking.

Imagem: Ideo.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da maneira como você definiu o Design Thinking. Leio muito a respeito, mas nunca utilizei o conceito de forma tão abrangente como mostra o vídeo da IDEO construindo o carrinho de supermercado. No vídeo, eles fazem uma verdadeira pesquisa antropológica para entender o consumidor.
Já tive a chance de fazer uma reunião informal, com os famosos post its, o que gerou bons resultados.
Mas o mais próximo do Design Thinking que cheguei foi um sessão de Kaizen, cujo o foco não era desenvolver algo novo, mas sim melhorar um processo já existente. Passamos uma semana discutindo o processo, enxergando o ponto de vista de várias áreas, o que acabou gerando ótimos resultados. Usamos post-it, barbantes, desenhos, etc.
Vejo que hoje, se discute muito a convergência do Design Thinking, que visa o desenvolvimento de novos produtos e serviços, com metodologia de Lean e Six Sigmas, que visam ganhos e melhoria no processo já estabelecido.

MarcosTeles disse...

Gostei da maneira como você definiu o Design Thinking. Leio muito a respeito, mas nunca utilizei o conceito de forma tão abrangente como mostra o vídeo da IDEO construindo o carrinho de supermercado. No vídeo, eles fazem uma verdadeira pesquisa antropológica para entender o consumidor.
Já tive a chance de fazer uma reunião informal, com os famosos post its, o que gerou bons resultados.
Mas o mais próximo do Design Thinking que cheguei foi um sessão de Kaizen, cujo o foco não era desenvolver algo novo, mas sim melhorar um processo já existente. Passamos uma semana discutindo o processo, enxergando o ponto de vista de várias áreas, o que acabou gerando ótimos resultados. Usamos post-it, barbantes, desenhos, etc.
Vejo que hoje, se discute muito a convergência do Design Thinking, que visa o desenvolvimento de novos produtos e serviços, com metodologia de Lean e Six Sigmas, que visam ganhos e melhoria no processo já estabelecido.