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9/24/2017

Pequenos e médios empresários enganados por “movimentos” online



Desde de 2013, quando o “Gigante Acordou”, movimentos sociais, empresariais e de produção dos mais diversos setores do País começaram, aos poucos, a se desfragmentarem e se dividirem. Passou-se, então, de uma indignação geral e coletiva da sociedade para um briga constante entre dois lados: direita X esquerda.

HISTÓRICO DA GUERRA DA INFORMAÇÃO

O dia 16 de junho de 2013 entrou para a história do Brasil, enquanto o mundo estava de olhos voltados para o que acontecia no País. As pessoas estavam nas ruas, juntas, contra um único inimigo: o Governo e a opressão policial.

Leia-se o governo em todos os sentidos: Nacional, Estadual, Municipal, poderes do executivo, legislativo e judiciário. Os funcionários dos 1%. A população já estava de saco cheio de tudo que via. E nunca ouve uma indignação coletiva tão grande como a do dia 16 de junho de 2013.



Por que aconteceu essa indignação toda?

A violência e conduta da polícia militar imposta aos estudantes, jornalistas e pessoas que protestavam pelo passe livre (incluindo pessoas inocentes que andavam nas ruas), mecheram com o país.

O Governador do Estado, Geraldo Alckmin, em viagem internacional com o vice Michel Temer e o prefeito Fernando Haddad, chamou os manifestantes de vândalos e baderneiros, em 12/06/2013. No dia seguinte, apareceram vídeos, no YouTube e Facebook, que mostravam policiais quebrando o vidro da própria viatura (repare na data “São Paulo 13/6/2013“) para forjar o vândalismo por parte dos manifestantes, justificando um “contra-ataque” contra a população.

Uma jornalista da Folha da Folha de S.Paulo que fazia cobertura das manifestações foi atingida no olho por uma bala de borracha (“13/6/2013”). Uma professora que caminhava pela rua foi atingida na mandíbula também por bala de borracha (data do vídeo de 17/6/2013).

Esses casos e diversos outros de gás de pimenta, empurrões e prisões sem motivo, foram o estopim para a indignação geral do povo dar início a um grande movimento nunca visto antes.

Além das fotos e vídeos de jornalistas e inocentes feridos, o twitter bombando com a hashtag #ogiganteacordou, aconteceu um ataque hacker no Twitter da revista Veja e Instagram da Dilma Rousseff (18/6/2013) . Foi o suficiente pra todo mundo “se sentir chamado” e fazer parte daquele movimento “contra eles”.

Eventos criados por jovens no Facebook, convocando para manifestações locais, em centenas de cidades pelo País, surgiram dia após dia. E a adesão da população era cada vez maior.

Um dos policiais, talvez impactado por todas estes fatos expostos pelas mídias sociais e sentimento geral da população, decidiu desobedecer uma ordem do comandante e foi mandado embora da operação (19 de junho de 2013).

É como se um soldado, pela sua honra, deixasse de lutar pelo castelo para lutar pelos interesses de seu povo – no caso, a população (incluindo ele mesmo).

VELHA ESTRATÉGIA MIDIÁTICA

A grande mídia que, ignorando todos estes fatos, tratava os manifestantes como “vândalos” (como disse o Governador Geraldo Alckimn para a Globo), enquanto milhões estavam nas ruas, a Globo exibia sua novela das oito e a Rocord, pelo Cidade Alerta, foi a primeira emissora a transmitir, do alto, as manifestações. Tudo isso 2 dias depois de ganhar grandes proporções.

No período, 2.608 pessoas foram presas, 117 jornalistas foram feridos ou agredidos de acordo com a ONG Artgo 19.

Diversas pessoas tomaram a decisão de – muitas pela primeira vez na vida – apoiar uma manifestação. Era um sentimento em comum: o povo contra o Estado.

Naquela época não se falava tanto em direita X esquerda. Eram dias onde ficava bem claro, para todos os brasileiros, quem era o inimigo em comum. Pessoas saíam mais cedo do trabalho para participar da manifestação, em solidariedade aos feridos pela polícia.

Indiferente de ideologia política, crenças ou classes sociais, todos ali sabiam quem eram os verdadeiros inimigos: os 1%.
Em poucos dias, já se viam bandeiras de partidos políticos se infiltrando nas manifestações, black blocks que até hoje não ficaram bem claros de onde vieram e movimentos partidários que se despreendiam em grupos na multidão.

Ambos: Governo Federal e Estaduais, falharam em 2013, ao tentar esconder as suas maracutaias, usando as velhas táticas da grande mídia para controlar a população e blindá-los de seus esquemas.


As pessoas começaram a discutir leis e logo se deram conta da proposta que tentava limitar o poder de investigação do Ministério Público. A PEC 37 virou um dos principais alvos das manifestações de rua pelo país por volta de 25 de junho de 2013.

IMAGEM AQUI

Foi quando, no meio do caos e perca de foco, eles (os 1%) entraram com a inteligência política dentro da internet, travestida de povo para “domar” o gigante que havia acordado.

Grupos foram se formando, alguns com movimentos autênticos, do povo, e outros – com mais suporte financeiro – foram financiados por organizações ligadas ao governo (leia-se, Federal e Estadual – PT e PSDB).

CUT, MST, VemPraRua, Revoltados Online, MBL são exemplos de “movimentos” que se perderam no meio do caminho por aceitar dinheiro de partidos políticos, levando as pessoas a apoiarem seus interesses individuais para sempre mantê-los no poder.

De lá pra cá, depois de 4 anos, estes movimentos ganharam força e se apoiaram em sites de notícias falsas para controlar a opinião pública. Só que desta vez, em um grande esquema muito organizado e com dinheiro, orquestrado em conjunto com a já tradicional grande mídia.
Qual o interesse dos 1% nisso tudo?

Resposta: dinheiro.

Não importa que seja um governo de direita ou esquerda, com ou sem militares. Os poderosos sempre estarão no poder enquanto controlarem as liberdades individuais de cada um ao manipular informações, como fazem agora pela internet.

Enganam, inclusive, pequenos, médios e grandes empresários brasileiros. Por acharem que fazem parte da “casta” empresarial, votam em políticos que beneficiam apenas os grandes bilionários (que se comparados com a maioria, são pocuos), dificultando a competitividade, a inovação e o crescimento sustentável do mercado interno.
Quem são eles?

“Eles” não são os políticos. Os políticos servem de marionetes para todo este circo.

Aqueles que deveriam ser representantes do povo, representam os interesses de bilionários (leia-se BI, DE BILHÕES) que usam os políticos como porta de entrada para exploração de riquezas do nosso País.
Lama das barragens em Mariana (MG) – Gabriel Lordello/Mosaico Imagem

Eles não pagam impostos, saem impunes em casos como o das barragens de Mariana, MG, usam as nossas ferrovias, os nossos portos, aeroportos, helipontos, e agora investem para que grupos online tomem conta do sentimento da população em relação ao que acontece na política, enquanto eles deitam e rolam em nossas terras.

O 99% surgiu com a ideia de ressuscitar aquele sentimento do povo a favor do povo, para que realmente nos unemos, de forma democratica, organizada e distribuída, contra o nosso inimigo em comum: os 1%.

Não têm problema algum ser rico, desde que não interfira na segurança e no bem-estar dos outros 99%.

Os números de 2014, declarados pelos contribuintes à RFB em 2015, mostram que o 0,1% mais rico da população brasileira, ou 27 mil pessoas (!) num universo de 27 milhões de declarantes do IRPF, afirmaram possuir R$ 44,4 bilhões em rendimento bruto tributável e R$ 159,7 bilhões em rendimento total bruto.

27 mil pessoas em um Brasil que possui mais de 207 milhões de habitantes, segundo IBGE.
1% da população global detém mesma riqueza dos 99% restantes, diz estudo
O QUE ELES ESTÃO FAZENDO AGORA

A ERA DOS ROBÔS E DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL:

Assim como pessoas compram seguidores, likes e parlamentares, os 1% agora querem, também, controlar a internet. E está muito difícil, para as grandes empresas de tecnologia como o Facebook, Google e Twitter, rastrear, todos os dias, perfis fakes e organizações criminosas na rede.

O Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, fez uma transmissão ao vivo ontem sobre as interferências nas eleições e os próximos passos para manter a integridade do processo democrático.

Ele mesmo disse: não será fácil.

Por este motivo precisamos atuar, agora, pra ontem.
Imagem: Market Realist
Para que diminuamos os estragos, é preciso que a população – usuários ativos com perfis reais – participem da “patrulha online” ao denunciar a presença de um robô na rede, de um perfil falso ou de uma mentira postada em sites, comentários, páginas e comunidades.

Sites de notícias: além da mídia tradicional (Rádio, Televisão e Jornais), hoje, diversos sites de notícias falsas são criados para alimentar posts no Facebook. São websites que não possuem assinatura de autor nos textos, registro da organização/domínio, localidade, fontes de pesquisas, provas e denúncias comprovadas ou referências bibliográficas sobre o tema abordado.

Eles servem, unicamente, para espalhar a desinformação. São estrategicamente controlados para postarem em harmonia com decisões de políticos por todo o Brasil.

Perfis falsos: muitos sem foto de rosto, não possuem amigos, posts pessoais e outras informações, mostram em seu histórico de uso da ferramenta que ficam o tempo todo comentando em sites sobre política. Espalham mentiras, interagem em páginas, incentivam discussões sem base e respeito algum, utilizando o discurso de ódio. Seja ele de direita ou de esquerda, o objetivo deles é de nos separar.

Grupos/Páginas no Facebook: é preciso sempre checar a veracidade das infromações postadas, das imagens sem fonte/autor da frase, dos links para sites não confiáveis e perfis dos membros que fazem parte deste grupos.

Vídeos: tanto no YouTube quanto no Facebook. Eles usam, geralmente, apenas o nome do canal, sem uma pessoa assinando o vídeo e nem fontes ou links de referência. Eles usam uma voz artificial ou apenas imagens em um vídeo editado.

Exibem debates, pronunciamentos de políticos e outros representantes que são cortados, editados e colocados com títulos diferentes, mudando totalmente o contexto de uma situação específica.

Outros, conhecidos como “influenciadores” na política, recebem dinheiro destes pilantras para atuarem com vídeos na internet, usando a própria imagem. É preciso ficar de olhos abertos. E no caso dos vídeo, acompanhar transmissões online ou vídeos completos dos eventos destas pessoas/canais, sem edições, sem cortes, para evitar a manipulação – literalmente.

INFORMAÇÃO GANHA RELEVÂNCIA NO IMEDIATISMO – AO VIVO

É melhor começarmos a atuar, agora, porque já passamos muito tempo “refletindo” sobre tudo isso.

[>] Faça parte do movimento. Curta a nossa página no Facebook e saiba como participar pela página de voluntários.

*O que inspirou o movimento 99% Brasil: https://other98.com/

*Links que serviram de consulta para escrever este artigo:


– Thousands Gather for Protests in Brazil’s Largest Cities – http://www.nytimes.com/2013/06/18/world/americas/thousands-gather-for-protests-in-brazils-largest-cities.html

– Lei anti-terrorismo é sancionada por Dilma: saiba quais são os danos para a democracia – https://medium.com/democratize-m%C3%ADdia/lei-anti-terrorismo-%C3%A9-sancionada-por-dilma-saiba-quais-s%C3%A3o-os-danos-para-a-democracia-744a3436c6ea

– Sininho confirma: Black Bloc é financiado – https://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/02/13/sininho-confirma-black-bloc-e-financiado

– Fazenda divulga Relatório sobre a Distribuição da Renda no Brasil – http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/200bspe-divulga-relatorio-sobre-a-distribuicao-da-renda-no-brasil

– Estes são os brasileiros mais ricos de 2017, segundo a Forbes – http://exame.abril.com.br/negocios/estes-sao-os-brasileiros-mais-ricos-de-2017-segundo-a-forbes/

– A inacreditável concentração de renda e riqueza no Brasil – http://brasildebate.com.br/a-inacreditavel-concentracao-de-renda-e-riqueza-no-brasil/

– Mobilizações urbanas e ciberativismo: uma análise sobre as manifestações – http://portal.comunique-se.com.br/mobilizacoes-urbanas-e-ciberativismo-uma-analise-sobre-manifestacoes/

– Câmara derruba PEC que tentava limitar o poder de investigação do MP – http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/camara-derruba-pec-que-tentava-limitar-o-poder-de-investigacao-do-mp.html

– Polícia prendeu 2.608 nos protestos de junho – http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/policia-prendeu-2-608-nos-protestos-de-junho/

– Áudios mostram que partidos financiaram MBL em atos pró-impeachment – https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/05/27/maquina-de-partidos-foi-utilizada-em-atos-pro-impeachment-diz-lider-do-mbl.htm?cmpid=copiaecola

– Protestos de rua nas capas dos jornais do Brasil e do mundo – http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,protestos-de-rua-nas-capas-dos-jornais-do-brasil-e-do-mundo,157197e

– ‘Media’ e as manifestações de junho: controle e disputa – http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/_ed769_mediae_as_manifestacoes_de_junho__controle_e_disputa-2/

– How Twitter Plans to Counter Fake Accounts – http://marketrealist.com/2017/05/how-twitter-plans-to-counter-fake-accounts/

9/20/2017

Sobre os talentos anônimos espalhados pelo Brasil






Por que são sempre as mesmas pessoas que sobem no palco dos eventos do mercado digital?

Resposta: porque nem todos querem subir no palco.

Enquanto um evento da área acontece, 95% dos profissionais estão - adivinhem? - trabalhando.

Isso não é uma crítica aos eventos em si, mas sim a falta de profissionais que estejam dispostos a subir no palco pra compartilharem suas experiências.

Nem todo mundo quer ser famoso. Nem todo mundo quer dar entrevista pra site ou ser capa de revista.

Ultimamente, os profissionais que mais inspiradores que conheço são anônimos, desconhecidos, e que fazem um trabalho fenomenal onde, com qualidade e profissionalismo, impactam milhões de usuários - até bilhões, no caso do Facebook.

A grande maioria, sem dúvidas, busca por fazer um bom trabalho para se destacar entre seus colegas, clientes e ganhar credibilidade pela qualidade do serviço/produto que faz, ao invés de correr atrás da fama.

O mundo realmente mudou e, aos poucos, vamos percebendo o que

De 10 anos pra cá, muito mudou. E pensar em novas formas de conseguir inspiração, fora do pequeno círculo de "influenciadores" do mercado, pode ser mais valioso do que ficar jogando confete para palestrantes que você nem conhece pessoalmente.

9/14/2017

O que os investidores do Vale do Silício foram fazer no Burning Man?

(Dane Deaner)

A cidade que surge no meio do deserto por praticamente duas semanas, sendo 7 dias de "evento" oficial, oferece muito mais do que as mídias tradicionais dizem, e pessoas que, nunca estiveram lá, relatam em seus posts sensacionalistas.

Diferente de um festival de música padrão, o Burning Man é o maior encontro de contracultura do mundo. O que significa que lá, você não encontrará obras de arte tradicionais, que já tenha visto por aí. Além de muita música, carro-arte e festas, a cidade oferece atividades voltadas para todos os grupos e idades.

São aulas, workshops e atividades que proporcionam a interação entre os participantes no intuito de criarem algo novo para solucionar problemas que vão além do deserto de Black Rock.

Um dos exemplos, é o Shiftpod. Uma barraca que foi criada por um acampamento de burners e que, hoje, serve de abrigo para grupos de refugiados de guerras.



E além das criações artísticas e projetos que saem destes acampamentos, o que realmente levam em conta, é a atitude das pessoas no deserto.

O Burning Man é um festival guiado por 10 princípios que, ao serem seguidos, fazem tudo ter mais sentido. Tranformando o encontro um lugar mágico e cheio de "coincidências":

1 – Auto Expressão Radical: Liberdade para ser você mesmo.

2 – Auto Confiança | Auto Responsabilidade – você é responsável por você mesmo, mentalmente e fisicamente.

3 – De-comoditização– esqueça do dinheiro – não tem nada para comprar

4 – Não Deixe Rastros: De pó ao pó, deixe apenas pegadas

5 – Participação: Se envolva. Burning Man é o que fazemos.

6 – Inclusão Radical: Todos são bem vindos.

7 – Presentear: Oferecemos o nosso tempo e esforço livremente.

8 – Co-operação: Juntos somos mais fortes

9 – Comunidade: Uma família de indivíduos, nós cuidamos uns dos outros.

10 – Imediatismo: Faça o agora valer / esteja aqui agora.

Com base nestes princípios, as pessoas seguem para o deserto com toda a preparação para acampar e viver em comunidade por 7 dias ou mais.

O período anterior ao evento oficial, serve para que pessoas engajadas possam chegar mais cedo e começar a construir os acampamentos, que geralmente oferecem: comida, bebida, serviços como oficina de bicicletas, lavagem de cabelo, aulas de yoga, bitcoin, empreendedorismo social e até uma Sillicon Village.
Raising the Man - Shalaco

Muitos sites disseram que funcionários de grandes empresas do Vale do Silício vão para este encontro pela festa e pelo glamour - o que não é verdade. Eles fazem parte desta comunidade pela construção de algo muito maior do que vestir uma fantasia e mostrar o corpo escultural, como se vê na maioria dos posts.

É na hora da construção, que se encontram os talentos. Líderes, gestores de projetos, comunicadores, criativos e os mais diversos atributos que os investidores procuram em pessoas que vivem em um ambiente hostil, de altas temperaturas durante o dia, tempestade que te deixa sujo e sem acesso a internet.

As conversas no Burning Man vão muito além do "o que você faz da vida?". É natural começar uma conversa dentro de uma instalação artística, debatendo o conceito da obra, sobre o quê o artista pensou, nas emoções que ela passa, sobre o ambiente ou sobre as constelações em uma noite de céu estrelado. E por mais que alguém comece puxando o gatilho do "quem é você lá fora", eles serão bem superficiais na resposta.

"Sou designer", "Sou carpinteiro", "Tenho um negócio na cidade". Descrições vagas não dirão que são design thinkers, engenheiros e empreendedores de empresas multimilionárias. Até porque, em Block Rock City, o dinheiro e quem você é "lá fora" não conta. Mas sim, a sua atitude.

E é à partir destas interações que eles encontram os talentos, no quão engajados são aqueles que se colocam à disposição para colaborar, de forma livre e espontânea, seja no planejamento (meses antes do evento), na construção, no durante e/ou depois que o evento acaba.

Amazon, Google, Apple, Facebook, Tesla, SpaceX e diversas companhias contaram - e ainda contam - com a presença de seus CEOs e funcionários no Burning Man. Mas além deles, também estão presentes, em grande parte, donos de outras empresas não só dos Estados Unidos, mas do mundo inteiro.

Larry Page, Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg and Sergey Brin.
Jeff Chiu/Associated Press, Robyn Beck/Agence France-Presse — Getty Images, Rick Wilking/Reuters, David Ramos/Getty Images, Robert Galbraith/Reuters



Enquanto escrevo este post, um dos meus amigos, grande colaborador do Burning Man, está em Nova Iorque, na ONU, lançando um projeto super bacana com investidores da Arábia Saudita - todos burners que se juntaram por estas interações.

Eu poderia colocar diversos exemplos aqui, citando nomes, de pessoas que estam criando coisas bacanas neste momento. Mas pelo pedido de anonimato deles (inclusive, de vários que acamparam comigo este ano) não irei dar nome aos bois.

Se você já teve algum preconceito sobre o Burning Man e quer saber mais sobre o que é esse negócio, escrevi outro post essa semana (bem longo) sobre a experiência social que ele proporciona - confira aqui.

Se você é um burner e acha que o Vale do Silício está destruindo o Burning Man, é melhor repensar sobre isso e acampar com essas pessoas. Somente assim para ver, com os próprios olhos, que eles constroem e participam muito mais do que muito artista e modelo que vai para Black Rock City pra postar foto no instagram.

São pessoas que não postam fotos, dizendo que estiveram lá.

Por fim, o que vale de aprendizado, é que o engajamento anônimo e voluntário em grupos onde não existem rótulos, como o Burning Man, possibilita um experimento mais valioso do que um longo processo de contratação de 5 meses, ou uma rodada de investimento de startups para descobrir talentos de verdade - sejam eles funcionários, parceiros ou sócios de negócios inovadores.

*Links que consultei para escrever este post, sobre a "invasão" do Vale do Silício no Burning Man:

- A Line Is Drawn in the Desert - https://www.nytimes.com/2014/08/21/fashion/at-burning-man-the-tech-elite-one-up-one-another.html
- Here's why Google went to Burning Man to find its next CEO - http://www.businessinsider.com/google-larry-page-sergey-brin-eric-schmidt-burning-man-stealing-fire-flow-state-2017-4
- From Silicon Valley to Black Rock City: The link between Burning Man and the West Coast aristocracy - http://www.rawstory.com/2015/09/from-silicon-valley-to-black-rock-city-the-link-between-burning-man-and-the-west-coast-aristocracy/
- From Tech Insider: Silicon Valley loves Burning Man and these tech executives are no exception - https://www.computermagazine.com/silicon-valley-loves-burning-man-and-these-tech-executives-are-no-exception/
- Sillicon Village Burners - http://siliconvillageburners.org/

9/13/2017

10 anos de blog!


Escrevemos para relatar aqueles insights que encontramos durante os nossos estudos, pesquisas, discussões e todo tipo de informação que se chega e fica rodeando a nossa cabeça.

A gente não tem ideia de quem irá ler o texto, ou quiça se alguém irá ler. Mas só de escrever, já faz um bem danado. É como se o nosso cérebro entendesse que estamos, pelo exercício da escrita, tirando pra fora tudo aquilo que nos consome.

Em 2007 comecei o blog MKTfocus neste sentido, por começar a minha carreira na área e por poder publicar textos e fragmentos de trabalhos acadêmicos ou estudos aleatórios. Já amava escrever no papel, tinha Fotolog e HPG (Home Page Grátis, na época). Mas o MKTfocus foi um projeto pessoal mantido com muito carinho. Como se fosse um diário do Doug Funnie, só que profissional.

Nestes anos todos, com a parceria do meu amigo que muito escreveu aqui, Fernando Dantas, e outros amigos que também colaboraram com seus artigos sobre marketing e comunicação, o blog atingiu milhões de views, posts impressos e entregues, na folha mesmo, em aulas de marketing na universidade.

Chegamos a receber brindes de empresas que nos enviaram, para que falássemos do backstage da estratégia, conceito e ação de marketing deles.

Um jornalista do New York Times usou o nosso blog, de um texto do Fernando, como referência para falar da rua Augusta, que na época, se tornou um caldeirão cultural que ditava muitas tendências sobre o público jovem na America Latina.

Em nenhum momento colocamos anúncios, nem parcerias que limitassem o visual do blog. Nem botões de contagem, compartilhamento e views que mostrassem o quão "famosos"poderíamos ser. Nunca gastamos com anúncios, Facebook marketing, SEO, etc. Até porque  nunca foi o foco.

Nos ultimos anos, focamos em escrever em outros lugares além do MKTfocus.

Uma vez escutei, em uma palestra, que "o sucesso está no processo, e não no resultado final". E se for pra ser feliz com algo que foi realizado, foi com as centenas (talvez milhares) de reações que recebemos nestes anos todos dos leitores e amigos. E isso já dá um tesão danado pra continuar escrevendo sobre o que vem pela frente. Não só aqui, mas nos mais diversos blogs sobre E-commerce, marketing, comportamento, livros e sites da vida.

Se você quiser ler sobre outros assuntos - que não sejam sobre mercado, inovação, etc - você pode seguir meu blog pessoal. Onde escrevo um pouco sobre tudo.

Também vários textos espalhados po aí. Muitos no blog da empresa no Brasil (https://laboratoriumbr.wordpress.com/author/gustavosanti/) outros no E-Commerce Brasil (https://www.ecommercebrasil.com.br/eblog/author/gustavo/) e vários no Facebook.

Não podemos criar expectativas, mas o desejo e a esperança é algo muito importante na vida de alguém que queira seguir em frente. Só espero que tenhamos novos modelos neste sistema em que vivemos, com mais inovação (de verdade, não essa da boca pra fora), economia criativa, colaborativa e que permita que mais pessoas possam fazer parte do "mercado", oferecendo produtos e serviços de acordo com a necessidade das pessoas.

Enfim, pra fechar, espero poder voltar mais vezes aqui. Com inspiração e boas notícias pra compartilhar, com quem quer se seja o leitor do MKTfocus. Obrigado!


9/12/2017

O que as fotos e vídeos não te contam sobre o Burning Man

O "glamour" do maior encontro de contracultura do mundo acaba escondendo os princípios do Burning Man

Foto: Stevie Galaxy
Existe um lado do Burning Man que muita gente não vê, que muitas fotos e vídeos postadas depois do encontro não mostram. A maioria dos artigos e comentários que vejo são - adivinhem? - de pessoas que nunca estiveram lá. O que acaba sendo um grande desserviço para quem vai pela primeira vez, achando que é um festival comum, de sexo, drogas e música eletrônica. Por isso, ainda com as mãos sujas da poeira branca (sim, ainda estou limpando as tralhas para o próximo ano), decidi escrever este post para que a mágica da cidade, que surge no meio do deserto por duas semanas, sendo uma de "evento" oficial, não se perca com a banalização do man.

PREPARAÇÃO

Este não é um evento onde você compra o ticket 3 dias antes de começar e vai com a expectativa de que irá encontrar alguma estrutura esperando por você. Exige planejamento, com meses de antecedência. É claro que tem gente, com mais poder financeiro, que consegue ir em cima da hora. E mesmo assim acabam chegando despreparados - sem ler o guia de sobrevivência, sem o equipamento necessário para acampar, pra sobreviver às dificuldades do deserto e sem saber como se envolver nas atividades da comunidade, sejam eventos sociais ou como voluntário.

Os tickets são vendidos online em vários "lotes": o primeiro (mais caro) que é uma "pré-venda" onde parte do dinheiro vai para financiar projetos de instalação de arte; o segundo que é para grupos; o terceiro, main sale, onde os tickets na sua maioria esgotam em poucos minutos. Por isso é preciso reservar este dia pra ficar na frente do computador e conseguir comprar no minuto exato da abertura no site. Em quarto, o low income tickets, onde exige o preenchimento e aplicaçaão de um formulário e assim por diante.

Burning Man 2017 Ticket Information

Depois do ticket, é só alegria: comprar tudo aquilo que você precisa - existem diversos check lists de coisas que você irá precisar levar - e ser criativo: pensar em formas de presentear as pessoas na Playa, seja com coisas materiais ou atividades de interação. Reservar RV ou carro, ticket do ônibus (existe o Burner Express que leva as pessoas de algumas cidades nos EUA direto para Black Rock City) passagem aérea, hospedagem, organizar as férias, etc. Tudo isso quem tem que fazer é você mesmo. Ninguém da comunidade brasileira, das páginas no Facebook (como a do Burning Man Brasil) de qualquer burner é obrigado a tirar as suas dúvidas sobre essas tarefas - não leve para o lado pessoal.

RUMO A BLACK ROCK CITY



Se você não for de avião (O Burner Express também oferece voos até BRC, que possui um aeroporto dentro da cidade) se prepare para uma longa jornada, com muita paciência.

Além de horas na estrada rumo ao deserto, quando se chega na última rodovia antes de pegar aquela poeira toda, já espere encarar uma fila densa. Pode demorar de 2 até 5 horas (normalmente) até você conseguir atravessar o portão. São 70 mil pessoas chegando ao mesmo tempo em uma velocidade super reduzida (pra evitar subir mais poeira).

Existem relatos de gente que ficou mais de 20 horas, devido a chuva, que quando toca a poeira, ninguém pode se movimentar. Ônibus, caminhões, carros, bicicletas e até pessoas andando a pé ficam atoladas na poeira alcalina que, com a água, gruda de uma forma que impossibilita a locomoção. Por isso é preciso estar preparado, com um galão extra de combustível, muita música e fácil acesso a comida dentro do veículo.

LIBERDADE PARA SER VOCÊ MESMO

Na semana seguinte da queima do homem, é normal ver fotos e vídeos de pessoas posando em seus trajes-fantasia, com aquele toque único. E diferente dos festivais tradicionais de música, as roupas que, muitas vezes se tornam arte, trazem uma mensagem e possibilitam a interação com o outro e descoberta de si mesmo. Pouco se fala que por trás destes apetrechos visuais todos, existe um princípio forte (dos 10 que o Burning Man sugere aos participantes), que é o da Auto Expressão Radical.

Ficar bonito, descolado, numa mistura hippie ~mais pra hipster~ com chapéu cartola e óculos steampunks para parecer cool, é tão mainstream que pode se perder a ideia de ser aquilo que você, muitas vezes, não pode ser na sociedade pelos julgamentos diários que o rodeiam. Não tem problema se você vestir qualquer chapéu, desde que proteja a sua cabeça do sol e da poeira (que destrói os cabelos). O que vale mais é a sua atitude: abraçar as pessoas, fazer elogios sinceros, participar, expressar seus sentimentos e emoções - por mais que eles não sejam puro amor. Se vestir (ou não) como você sempre quis, diferente do "normal", faz você viver aquele personagem dos seus sonhos diários, oprimidos pelas normas de um mundo padrão.

Mulheres aproveitam o não julgamento da cidade para serem livres de verdade. Muitas delas, que levam a sério o princípio da expressão radical, ficam tão confiantes e donas de si que são mais fortes e capazes do que muitos homens presentes ali. Não se importam em se aventurar de bicicleta sem hora para voltar e se "perderem", sozinhas, por dois ou três dias, até poder se encontrar no acampamento chamado de "casa", naquele relógio mágico que marca o endereço das ruas da cidade. Tomam decisões, atuam como lideres, construturas, motoristas e vivem cheias de atitude.

Foto: Nicola Bailey
Homens, que deixam em casa todos os preconceitos para serem eles mesmos, vestem saias, botas, se maquiam ou não vestem nada, deixando, por muitas vezes, o pouco (ou muito) do lado feminino e sensível aflorar na Playa - sensível no sentido de sentir, absorver o que te rodeia. Isso porque já vivem, boa parte do ano, entre grupos machistas/hetero normativos onde expressar os sentimentos é coisa de viado. No Burning Man você pode desmunhecar à vontade, ser aquilo que você sempre quis ser mas não podia ou teve coragem - e continuar sendo hétero. Você pode se expressar como quiser. Ninguém irá te julgar por isso (a não ser que ele não seja um true burner). Pelo contrário: receberá elogios e isso mudará em muito a sua atitude e percepção das coisas no decorrer dos dias.

TRUE BURNERS - BURNERS DE VERDADE

É claro que existe aquela parcela da cidade (digamos 10% do todo) que vai no intuito de alimentar o próprio ego, pagar de gatinho, se vestir para fazer books fotográficos e participar de todas as festas com DJs e pessoas famosas, sem ajudar, EM NADA, na construção da cidade ou em alguma atividade durante a semana. Tem MUITA gente rica e famosa que vai para Burning Man, e isso atrai gente pobre (de espírito) interesseira. Jatinhos entram e saem do aeroporto de Black Rock City o tempo todo. E a maioria dessas pessoas, na real, fazem MUITO mais pela cidade, de forma anônima e colaborativa do que os espectadores. Só que a diferença é que todos se misturam naquele ambiente hostil e sem dinheiro, que fica difícil colocar rótulos e separar quem é quem.

É preciso levar aquelas luvas grossas de trabalho. Estar preparado pra carregar madeira, caixas pesadas, pegar em ferro quente do sol - que pode queimar e destruir as suas mãos - tudo em prol da construção do seu camp, de uma arte, de uma simples sombra pra comunidade.

Foto: Burning Man Journal - Raising the Man 
As conversas no Burning Man vão além do "o que você faz da vida?", "onde você mora?", "onde você se formou". É natural conhecer alguém em uma instalação artística e discutir o conceito da obra, falar das emoções que se sente, da percepção do local e até mesmo das constelações durante uma noite de céu estrelado. Aqueles que estão interessados em saber quem você é "lá fora", curtem menos o momento, o sonho, a mágica de Black Rock City. Porque querem mesmo é fazer networking/contatos para manter a sua sobrevivência do mundo dos interesses financeiros, ao invés de fazer conexões, criar círculos de amizade sinceras que conectam o coração.

De qualquer forma, prefiro dizer "não sei" do que julgar quem vive na base dos contatos com gente "poderosa" sem ver se eles estão construindo algo, ou não. Fazer contatos e ir neste intuito não tem problema nenhum, desde que colabore de alguma forma e não tire proveito passando por cima da construção e suor daqueles que estão realmente envolvidos na coisa toda.
*Existe um post antigo sobre isso onde a galera discute o que é "ser um burner" aqui.

NÃO EXISTE DINHEIRO - VOCÊ NÃO PEGA A SUA CARTEIRA

Um dos princípios que faz a cidade ser o que é, é o da decomoditização - não existe dinheiro, nem troca. Só se compra gelo e café no center camp (seu acampamento vai precisar de gelo, todos os dias). O que faz a cidade ser um exemplo de economia criativa, compartilhada, colaborativa, por mais que se gaste um valor razoável na preparação.

Você pode ir de RV (motor home) e estacionar em um camp aberto somente para RVs, sem pagar nada. Ou, como a maioria, fazer parte de um camp temático, onde as pessoas dividem os custos dos materiais necessários para a estrutura, armazenamento e transporte de tudo (sombras, chuveiros, cozinha, etc). Geralmente o custo fica de 150 a 400 dolares, dependendo do que o camp vai oferecer.

David Lawson - Camp que oferece ovos para os participantes
Porém, ignorando completamente este princípio, existem camps chamados Plug and Play - são grupos que funcionam como concierges - agências de viagens. Você paga um valor X (alguns chegam a 20 mil dólares) e eles agilizam toda a estrutura necessária: Motor Home, sombra, ar condicionado, chuveiro, cozinha com buffet, refeições à vontade e gente trabalhando (cozinhando, trocando o lixo, pegando gelo, etc) pra você - ao invés de você mesmo fazer, colaborar, de uma forma organizada e dividida, entre os membros do seu acampamento. O que é totalmente contra o princípio de participação e decomoditização do Burning Man.

Em 2016 teve uma galera que ficou revoltada com um desses acampamentos luxuosos e foi lá vandalizar, já que eles não abriam o espaço para todos os participantes, faziam cara feia quando alguem desconhecido entrava e recebiam só gente famosa com tudo de bom e do melhor - leia o que aconteceu nesta matéria.

PARTICIPAÇÃO - NÃO EXISTEM ESPECTADORES

O Burning Man é um lugar mágico. E para que a mágica aconteça, é preciso participar, fazer parte dessa construção - por mais cansativo que seja. A organização oferece passes para aqueles que precisam chegar mais cedo para ajudar na montagem - se chamam early passes. E ver a cidade surgir, do zero, é uma experiência única. Todo mundo se ajuda, constrói durante o dia todo e aproveita as noites para interagir e descansar.

Não é a equipe da empresa Burning Man que constrói tudo. A organização do evento oferece um "quadro em branco", marcando os perímetros das ruas, da playa, a segurança (que também é voluntária), os banheiros químicos, a posição das artes e dos camps. Quem constrói, de verdade, são as pessoas. Gente como você, que pagaram o valor do ingresso inteiro para estar ali. Planejam com meses de antecedência, chegam 3 dias mais cedo, vão embora 3 ou mais dias mais tarde, ficam debaixo de sol forte pra montar as sombras, cozinhas, chuveiros, barracas, yurts, instalações de arte e tudo aquilo que se vê nos camps que oferecem algo para a cidade.

Daí se tem a falsa sensação de que "tudo aqui é de graça". Sendo que, na real, todo mundo oferece algo e colaborou de alguma forma.

Thunderdome - Acervo Web
E fazer parte deste time de montagem e desmontagem é uma causa positiva muito forte. Parece que quando o evento começa, você já está conectado com a cidade e o deserto. Dá muito mais valor nos outros camps e aproveita as oportunidades, diferente daquele que pagou o ticket e chega como espectador, curte, e vai embora sem levar ao menos um saco de lixo. Você participa mais, interage, se entrega.

E aí que a mágica acontece: você encontra amigos na hora certa, art cars no meio do deserto que te levam para festas incríveis, comida quando sente fome, bebida quando está com sede, aulas e workshops do seu interesse no momento exato de início. São experiências que parecem coincidências, mas que na realidade é a cidade te dando de volta aquilo que você mesmo ofereceu desde o começo.

O CUIDADO COM A PLAYA, COM A COMUNIDADE

True Burners - Burners de verdade - carregam um zip lock (saquinho de plástico) dentro da bolsa durante as aventuras na Playa, pra guardar o lixo que produzem e encontram no caminho. Quando se vê alguém fazendo algo errado (sem iluminação no corpo, deixando cair lixo no chão, sendo imprudente de alguma maneira) se expressam, tomam conta do outro. O que é diferente de chamar a atenção ou dar lição de moral.

É preciso entender isso como um carinho, cuidado do outro com você e com a Playa, e não levar isso para o lado pessoal. As pessoas realmente se importam com a bem-estar de todos e do local. Você não verá latas de lixo no meio do deserto, ninguém é obrigado a lavar a sua louça. Terá que carregar a sua caneca e a sua tigela/pote se quiser comer. Não existem copos, pratos e talheres descartáveis. Não é permitido usar drones sem uma permissão e nem tirar fotos/filmar gente pelada sem autorização.

Bicicletas abandonadas - Tom Stahl

Sair para explorar a Playa de bicicleta é correr o risco de encontrar um carro-arte e poder subir em cima dele. Pra isso, é bom colocar um cadeado na bicicleta e voltar pra pegar no outro dia. Mas nunca deixá-la em qualquer lugar, abandonada, porque isso atrasa - e muito - a vida daqueles que ficam após o final do evento recolhendo as bicicletas esquecidas na cidade.

E não são pessoas pagas pra fazer isso, são voluntários.

A água que você escova os dentes e toma banho, deve ser depositada em um barril, que fica no sol durante o dia todo para evaporar. E será o seu camp o responsável por levar esse barril para lavar e guardar/trocar para o próximo ano.

ACOMODAÇÃO - DA SOBREVIVÊNCIA AO LUXO

Se vê muitos posts de RVs (Motor Home/Trailers) nas redes sociais. O que é, realmente, um luxo. Sendo que o preço do aluguel de um RV (dos mais simples) para o Burning Man sai em torno de U$ 5.000,00 / 10 dias para 2 pessoas.

O que não é a realidade da maioria, que ficam em Yurts (veja os modelos aqui), barracas de lona ou de Nylon (que se transformam em um forno após as 8am). Por este motivo, muitos camps montam sombras para que as pessoam possam colocar as suas barracas e aguentar o sol da manhã, garantindo algumas horas a mais de sono por dia.

Uma boa ideia é aproveitar a sombra dos containers e RVs estacionados no camp em uma posição que gere proteção todas as manhãs, podendo colocar uma ou duas barracas do lado oposto. Isso ajuda, em MUITO, na hora que o sol nasce (umas 6am) até umas 10am.

Foto: George Dvorsky
Ter um gerador para o ar condicionado dentro dos Yurts e alguns modelos de barracas, como o Shiftpod - projeto que saiu do burning man para ajudar refugiados de guerras - é uma maravilha e ajuda demais a manter a temperatura do lado de dentro depois das 10h da manhã.

Mas como disse: é luxo, dá pra sobreviver sem. E na questão de privacidade, o RV ou uma barraca de 6 pessoas para 1 ou duas, pode ser a melhor opção. Terão momentos em que você vai querer ficar sozinho, descansar, namorar, curtir o seu tempo em paz. E por isso é sempre bom ter uma barraca, por mais que você divida um RV com alguém.

SÓ TEM GENTE JOVEM, MAGRA, BRANCA e RICA - MENTIRA

É verdade que a maioria das pessoas são brancas, mas não é verdade que a cidade é composta apenas por pessoas brancas. Você vai encontrar pessoas de diversas nacionalidades, cores e raças. Ainda que, gente de pele escura seja minoria, tem muita gente fazendo parte disso e como todo assunto sobre, não dá pra generalizar.

É verdade também que você encontrará corpos atléticos, homens sarados, mulheres de corpos esbeltos. E também irá encontrar gordos, magros, altos, baixos. Pessoas nos seus mais variados formatos que não estão ali pela exposição do corpo, mas de sua arte e de algo muito maior do que isso.

Passeando pelos acampamentos, é possível perceber que os mais organizados e interessantes são compostos por pessoas acima dos 40, 50 anos. São grupos que já foram há várias edições e estão ali pela diversão de entreter as pessoas com uma comida boa, lavando a sua cabeça, oferecendo drinks ou um carona da deep Playa de volta pra casa em um daqueles tapetes voadores.

Foto: Aly Weisman
E para quem diz que não é lugar de criança, também é mentira. Black Rock City possui o Kids Village, que é um acampamento voltado somente para crianças, com voluntários que atuam como babá, revezando nos dias da semana para ficar com as crianças nos momentos em que os pais estão se eventurando pela Playa.

As crianças possuem várias atividades e andam livremente de bicicleta pela cidade. Pelas manhãs, eles passeiam pelos acampamentos oferecendo cookies que eles mesmos cozinharam no Kids Village. Eles jogam, se divertem no trampolim e fazem tours, todos juntos, pela Deep Playa.

O Burning Man é, definitivamente, um ambiente familiar - em todos os sentidos.

EXPERIÊNCIA ÚNICA E INDIVIDUAL

Por fim, eu poderia colocar aqui como foi a minha experiência, mas seria uma verdade provisória, relativa e que cada um absorve de uma maneira diferente. E acredito que seja muito legal respeitar as experiências de cada um.

Por mais que as pessoas decidam ir para Black Rock City com intenções diferentes, não devemos julgar. A não ser que as atitudes dessas pessoas interfiram, de alguma maneira, na segurança e no bem estar de todos, como sugerem os princípios do evento.

Caso você queira ir no próximo ano e precise se conectar com mais pessoas, existem grupos online, no Facebook e outros sites que podem te ajudar.

E sim: já estamos nos preparando para o próximo ano: arte, atividades do camp, festas, encontros no decorrer do ano... Nunca é tarde para transformar os seus sonhos em realidade.

Foto: William Praniski - Brasileiros que ficaram, em 2017, pra limpar a Playa 

BEBA ÁGUA )*(

*Links que consultei para escrever este post:

- 10 Princípios do Burning Man https://burningman.org/culture/philosophical-center/10-principles/
- Guia de sobrevivencia do Burning Man: http://survival.burningman.org/
- Artigo sobre os luxury camps http://www.businessinsider.com/burning-man-camp-vandalized-2016-9
- Relato de um plug n play camp: https://www.reddit.com/r/BurningMan/comments/3k273i/my_friends_were_in_a_plug_n_play_camp/
- Sobre os early passes: https://help.burningman.org/customer/en/portal/articles/2269046-how-do-early-arrival-passes-work-?b_id=13074
- Burner Express: https://burnerexpress.burningman.org/
- Informacoes sobre tickets: http://tickets.burningman.org/